Conserva o modelo das sãs palavras que de mim tens ouvido, na fé e no amor que há em Cristo Jesus.    

2 Timóteo 1:13 

INTRODUÇÃO

   Como estabelecer um pensamento consistente em meio a uma sociedade bombardeada de pensamentos diversos? Como estabelecer verdades eternas em meio a um mar de “meias verdades” e mentiras convincentes? Para nós, cristãos, há um livro que foi escrito por vários autores, inspirados pelo Espírito Santo de Deus, com a finalidade de ensinar ao homem o caminho de volta para “casa”. Nesta lição, apresentaremos a formação, a compilação da Bíblia. Mas que Bíblia? No meio acadêmico, é comum se dizer que o livro de um determinado autor é a “bíblia” de certa matéria. Ou seja, é o livro que o aluno deve ter como norteador na sua área acadêmica ou vida profissional. Em nosso caso, falamos da Bíblia cristã evangélica, ou conjunto de livros, que norteia a nossa vida espiritual, social e pessoal. Não entraremos em detalhes sobre outras bíblias por não ser o nosso enfoque. Mencionaremos apenas as diferenças ou divergências que há entre elas e a que adotamos como regra de fé e prática para nossas vidas. Mas se a Bíblia é um conjunto de livros escritos ao longo de séculos, como se chegou à conclusão de que estes livros poderiam compor um pensamento único representando a Palavra de Deus? Isso não se deu da noite para o dia, com certeza foi fruto de muita leitura e análise sobre a harmonia temática entre os livros. Homens compromissados com a verdade de Deus chegaram a uma unanimidade em relação aos livros escolhidos para comporem as Sagradas Escrituras, também denominada de Bíblia.

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O QUE É CÂNON

   Normalmente os dicionários tratam a palavra cânon, ou cânone, como uma “regra”, um “padrão”, ou mesmo “um conjunto de livros inspirados divinamente”. Dockery vai nos dizer que “A palavra cânon deriva fundamentalmente de uma palavra semita que significa junco, de onde vem o sentido figurado de vara de medir ou régua. Daí deriva o sentido geral de norma ou padrão e, por fi m, lista ou rol. Aplicado à Bíblia, cânon refere-se à lista de escritos reconhecidos pela igreja cristã como única regra de fé e prática”81. E esta regra, para nós cristãos, se traduz na Bíblia, a Palavra de Deus.   

  

 

   Levando-se em conta o conceito de bíblia dado pelos dicionários, existem certos conjuntos de livros que também expressam esse sentido, como a Torá, o livro sagrado do povo judeu; o Alcorão, livro sagrado para o islamismo; para o hinduísmo, Vedas; etc. para nós, cristãos, o livro sagrado é a Bíblia. No entanto existe uma diferença entre a Bíblia católica romana e a Bíblia protestante, ou evangélica. Aquela contém um total de 46 livros no Antigo Testamento, enquanto esta contém 39 livros. Essa diferença entre as listas fechadas de livros de ambas as Bíblias tem um porquê. Em princípio, é necessário que haja uma unanimidade em relação à doutrina apresentada no cânon, e isso não se apresenta na Bíblia católica romana. Vejamos a seguir.

 

A FORMAÇÃO DO CÂNON

   Diante de tal seriedade, pois se tratava da Palavra de Deus, homens comprometidos com a verdade, com a vontade do Senhor, reuniram-se para listar os livros escritos que condiriam com aquilo que o Senhor quisera expor à Humanidade. Como dizer o que é divino por meio do ser humano? Seria o ser humano fi el para escrever a vontade divina? Responderemos a esta pergunta no final deste ponto. Porém foram realizadas várias reuniões, os chamados Concílios, a fi m de se resguardar a harmonia e se constatar que realmente se tratava da inspiração do Espírito Santo. E assim foram realizados:

A tradição sugere que, em grande medida, Esdras foi o responsável pela reunião dos escritos sagrados dos judeus num cânon oficialmente reconhecido. No entanto, o reconhecimento do cânon do Antigo Testamento usualmente deu-se num suposto Concílio de Jâmnia entre 90 e 100 d.C. A mais antiga lista cristã sobrevivente do cânon do Antigo Testamento provém de cerca de 170 d.C, compilado por Melito, bispo de Sardes. Nos primeiros séculos do Cristianismo, foram propostos vários cânones das Escrituras, desde o do herege Marcião, em 140 d.C, e o Cânon Muratoriano, de 180 d.C, até ao primeiro cânon completo do Novo Testamento feito por Atanásio em 367 d.C. O cânon do Novo Testamento, conforme hoje o possuímos, foi oficialmente reconhecido no Terceiro Concílio de Cartago em 397 d.C.82

   Qual a diferença, então, entre essas duas Bíblias que hoje se denominam assim, as Escrituras Sagradas? Muito já ouvimos sobre os livros apócrifos, que no meio religioso significa “destituído de autenticidade divina”, “não inspirado por Deus”. E isso tem razão de ser, visto que há discrepâncias entre alguns preceitos teológicos entre elas. Se tomarmos o que está escrito na Bíblia romana, no livro de Eclesiástico 12:6, “Faze o bem ao homem humilde, e nada dês ao ímpio; impede que se lhe dê pão, para não suceder que ele se torne mais poderoso do que tu”, veremos claramente que há uma divergência em relação ao que Cristo Jesus nos ensina quando diz: “mas eu digo a vocês que estão me ouvindo: amem os seus inimigos, façam o bem aos que os odeiam, abençoem os que os amaldiçoam, orem por aqueles que os maltratam” (Lucas 6:27-28), teria esquecido Jesus as Escrituras? Ele poderia Se contradizer? O que realmente está correto? Ou então quando Eliseu manda que se dê pão ao exército inimigo (2 Reis 6:22), Eliseu não era um profeta do Senhor? Quem está mais próximo da verdade de Deus, Tobias ou Eliseu?.

   Ainda em outro livro apócrifo, chamado Tobias, no capítulo 12, versos 8 e 9, encontramos algo que “se equipara” ao sangue de Jesus, observe: ““Boa coisa é a oração acompanhada de jejum e a esmola é preferível aos tesouros de ouro escondidos, 9. porque a esmola livra da morte: ela apaga os pecados e faz encontrar a misericórdia e a vida eterna;”84 (grifo nosso), ou seja, o sangue derramado no sacrifício de Jesus na cruz, para Tobias, tem o mesmo poder da esmola, esta apaga os pecados. Não há uma contradição aqui? Veremos que em Atos dos Apóstolos 3:19 está a nossa fé, n’Aquele, e só n’Ele, a esperança do nosso perdão: “arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do senhor,”.

   Podemos ainda verificar a desarmonia dos escritos apócrifos ao lermos também no livro de Tobias, capítulo 6, versos de 3 a 8, a seguinte afirmação:

   “e o anjo lhe disse: “Agarra o peixe e não deixes que ele escape!” O rapaz agarrou o peixe e arrastou-o para terra. Então o anjo disse: “Abre o peixe, tira o coração, o fígado e o fel e fica com eles, pois servem como remédio; deita fora as entranhas.” Tobias abriu o peixe e separou o coração, o fígado e o fel. Depois assou uma parte do peixe e comeu; salgou o resto e guardou-o para a viagem. Os dois continuaram a viajar juntos até que chegaram perto da Média. Então o rapaz perguntou ao anjo: “Azarias, meu irmão, para que servem o coração, o fígado e o fel do peixe?” O anjo respondeu: “O coração e o fígado servem para livrar uma pessoa do poder de um demônio ou espírito mau. É só queimá-los, e o fumo faz o demônio fugir. Nunca mais a pessoa será atacada nem dominada por um demônio” (grifo nosso).

   Em relação ao livro de Tobias, onde entra a autoridade do nome de Jesus quando Ele mesmo designou Seus discípulos para que expulsassem demônios em Seu nome? “Então designou doze para que estivessem com ele, e os mandasse a pregar; e para que tivessem autoridade de expulsar os demônios” (Marcos 3:14-15). Será essa fumaça tão poderosa assim? E de que peixe se está falando? “quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos procurando descanso, e, não o encontrando, diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. quando chega, encontra a casa varrida e em ordem. Então vai e traz outros sete espíritos piores do que ele, e entrando passam a viver ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro”.(Lucas 11:24 26). Podemos verificar que há incoerência entre os livros apócrifos e o restante dos escritos sagrados, ora negando a Palavra, ora acrescentando doutrinas.

   É importante que se reconheça essas diferenças para que saibamos como defender a nossa fé diante de outras linhas de pensamento religioso, pois um dos principais princípios para considerar a Palavra de Deus como pura é a inspiração. Horton nos fala

   Estabelecer o cânon da Bíblia não foi, porém, a decisão dos escritores, nem dos líderes religiosos, nem de um concílio eclesiástico. Pelo contrário: o processo da aceitação desses livros como Escritura deu-se mediante a influência providencial do Espírito Santo sobre o povo de Deus. O cânon foi formado por um consenso, e não por um decreto. A Igreja não resolveu quais livros deveriam estar no cânon sagrado, mas limitou-se a confirmar aqueles que o povo de Deus já reconhecia como a sua Palavra. Fica claro que a Igreja não era a autoridade; mas percebia a autoridade na Palavra inspirada.

   É preciso que se entenda que não apenas a inspiração levou a um consenso sobre o cânon bíblico, mas também outros fatores foram relevantes para se fechar o cânon hoje aplicado como a Palavra de Deus. E isso “Incluem a apostolicidade, a universalidade, o uso na igreja, a capacidade de sobrevivência, a autoridade, a antiguidade, o conteúdo, a autoria, a autenticidade, e as qualidades dinâmicas. De interesse primário é saber se o escrito era considerado inspirado. Somente os escritos inspirados (ou “soprados”) por Deus cumprem os requisitos para serem tidos como a Palavra autorizada de Deus”. Há também que se destacar a manutenção desses escritos ao longo dos séculos, pois eram muito importantes para o povo de Deus, tanto que não era qualquer um que estava capacitado para escrever, mas de acordo com 2 Pedro 1:21 “pois jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de deus, impelidos pelo Espírito santo”.

   Atendo-se ao sentido dos livros bíblicos, teremos neles sempre uma palavra de arrependimento, ou de apontar para o pecado, ou de reconhecimento do poder de Deus e da dependência humana, ou do amor de Deus e da rebeldia do homem; ou seja, apresentam uma necessidade humana de voltar-se para o Senhor, por meio de Cristo Jesus, a fi m de restaurar a sua natureza eterna. E só homens tementes a Deus, inspirados pelo Espírito poderiam escrever palavras de redenção. “A referência a “homens santos” deve ser recebida de acordo com o significado da raiz da palavra santo, ou santificado, que deve ser colocado à parte [ou separado] para um serviço ou propósito específico. Eles eram eleitos e Deus para este ministério e não há outra referência à santidade das vidas deles”.

   Respondendo agora a pergunta feita no início deste ponto, seria o ser humano fi el para escrever a vontade divina?, vemos que na verdade o homem constata o que é a verdade de Deus, já escrita, e a condensa em um único livro, tomando-o como regra de fé e prática diária. Não é nosso propósito descrever todos os cânon, mas atestar que já no século IV nossa Bíblia se encontrava completa, 39 livros do Antigo Testamento e 27 livros do Novo Testamento, pela confirmação da comunidade do povo de Deus que assim entendeu qual era a vontade do Senhor para o Seu povo. É importante, para nós cristãos, entender que não foi o homem que condensou em um livro o que era bom para ele(embora a Palavra é boa para a humanidade), mas é Deus que diz ao homem, por meio da Bíblia, o que é necessário para que ele viva eternamente.

 

A AUTORIDADE DA PALAVRA

   O cânon que agora utilizamos nos autoriza a falar em nome do Senhor, pois é a Palavra de Deus. Ao lermos a Bíblia, encontramos nela uma harmonia doutrinária que nos capacita a desenvolver uma vida reta e separada para o Criador. E quem nos confirma é nada menos que o próprio Filho de Deus, “Felizmente, não fomos deixados inteiramente à especulação ou à avaliação das poucas informações concernentes ao cânon do AT. Instruções específicas sobre os livros e como devem ser recebidos são provenientes dos ensinos do próprio Senhor Jesus Cristo, Para o cristão, essa e a maior autoridade”.

   Sabemos que, por ser escrita por mãos de homens, alguns são renitentes em relação à autoridade bíblica quanto à norma apresentada pelo livro sagrado. Deste ponto de vista, não estaríamos limitando Deus ilimitado e todo o Seu poder? Será que o Senhor do Universo não tem competência para comunicar Sua vontade da melhor maneira para que alcance o homem na sua limitação? Horton comenta Dizer que Deus não tinha capacidade de evitar erros na revelação de si mesmo é lançar dúvidas contra sua onisciência e onipotência.

   Dizer, à parte de uma revelação divina direta, o que Deus pode ou não pode fazer, é presunção. Revelar corretamente a si mesmo não é uma das coisas que a Bíblia diz que Deus não possa fazer (e isto não seria incapacidade d’Ele, mas uma imposição de sua natureza moral). Se Deus, que criou todas as coisas (inclusive a mente humana), pode comunicar à pessoa humana alguma verdade isolada, não há impedimento lógico para que Ele não comunique toda e qualquer verdade que desejar.

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   Se cremos que o Senhor pode realizar proezas impossíveis, se cremos que tudo foi feito por Ele e Ele é quem mantém tudo em harmonia no universo, não há por que duvidar do Seu método de comunicação direta, hoje, com a Sua criação suprema, o homem, através de um livro muito bem elaborado e harmonioso que normatiza a conduta de todas as áreas possíveis do ser humano. E mais: pode a igreja dizer o que é a verdade para Deus, ou o contrário, Deus dizer à igreja o que é a Sua verdade? Por isso Horton acrescenta:

   Estabelecer o cânon da Bíblia não foi, porém, a decisão dos escritores, nem dos líderes religiosos, nem de um concílio eclesiástico. Pelo contrário: o processo da aceitação desses livros como Escritura deu-se mediante a influência providencial do Espírito Santo sobre o povo de Deus. O cânon foi formado por um consenso, e não por um decreto. A Igreja não resolveu quais livros deveriam estar no cânon sagrado, mas limitou-se a confirmar aqueles que o povo de Deus já reconhecia como a sua Palavra. Fica claro que a Igreja não era a autoridade; mas percebia a autoridade na Palavra inspirada”.

 

APLICAÇÃO

   Nesse contexto da formação do cânon que hoje se aplica a nossa Bíblia usada pela comunidade evangélica, não há espaço para se duvidar da Palavra de Deus, se assim o fizermos, estaremos colocando em dúvida, não a capacidade humana de estruturar as verdades bíblicas, mas duvidando do poder de Deus para transmitir a Sua vontade ao homem. Para entendermos uma pouco mais sobre esta lição propomos:

• Primeiro: é importante entender o que é cânon e por que o nosso é diferente dos outros;

• Segundo: saber que a formação do cânon bíblico usado pelos evangélicos hoje, com 66 livros, é uma constatação do povo de Deus da vontade do Criador para a Sua criação;

• Compreender que a autoridade da Palavra não está no valor que o homem dá a ela, mas sim na autoridade d’Aquele que a inspirou.

   Assim podemos crer no livro santo de Deus, a Bíblia, que o Senhor nos outorgou para que aprendêssemos d’Ele: “Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus e para lá não tornam, mas regam a terra, e a fazem produzir e brotar, para que dê semente ao semeador, e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Isaías 55:10-11).

 

 

CONCLUSÃO

   Não tivemos aqui intuito de nos aprofundarmos nas diversas formas de estruturação canônica existentes, dado inclusive pelo espaço delimitado, mas apenas nos atermos ao nosso cânon cristão evangélico do qual extraímos toda a vontade de Deus para nossas vidas. Porém é necessário que tenhamos ciência de que outras formas canônicas podem vir de encontro àquela da qual fazemos uso, e importa que saibamos as diferenças, pequenas ou não, entre uma e outra, para que a doutrina do Senhor não seja maculada pelas nossas opiniões divergentes ou “semelhantes”. Com o Senhor não há o “pode ser assim”, pois a própria Palavra é incisiva: “seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do maligno” (Mateus 5:37).

 

QUESTÕES PARA DISCUSSÃO EM CLASSE

1. Explique o que é cânon.

R.

2. A Bíblia católica romana tem um cânon diferente do cânon usado pelos batistas do sétimo dia, por quê?

R.

3. Que critérios foram utilizados para que a nossa Bíblia nos seja a Bíblia que retrata a vontade de Deus?

R.

4. Qual foi o processo pelo qual passou o cânon protestante para que fosse considerado o mais fi el às verdades divinas?

R.

5. Podemos dizer convictamente que a Palavra de Deus tem autoridade? Se sim, por que e sobre o quê?

R.

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